(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
– Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.”
COMENTÁRIO Nesse poema, que faz parte do livro XXX Opus 10, de 1952, fica ilustrada a relação única que o poeta tem com a questão de iminência do fim da vida. O eu-lírico demonstra temor da morte e ao mesmo tempo revela certa proximidade dela. Ao dizer que talvez pronuncie uma frase casual (“Alô, iniludível!”) e ao imaginar a morte entrando em sua casa, constrói laços de intimidade com a “Indesejada das gentes”. Essas relações fascinam pela candura e pela resignação com que encara seu destino.
Irene no Céu
“Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor
Imagino Irene entrando no céu:
– Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
– Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.”
COMENTÁRIO
Aqui é possível interpretar o significado de Irene para o poeta. Irene é a representação da humildade, da simplicidade. Essas características são postas em evidência pela cor de sua pele (sabe-se que no Brasil as pessoas negras são uma parcela significativa dos pobres) e pelo modo como se refere a São Pedro. O poema valoriza esses elementos, o que se expressa na resposta tocante do santo, que dispensa maiores formalidades, como se o paraíso fosse o lugar dos simples e humildes.
Ilustração de Irene |
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