terça-feira, 17 de setembro de 2013

Consoada “Quando a Indesejada das gentes chegar 
(Não sei se dura ou caroável), 
Talvez eu tenha medo. 
Talvez sorria, ou diga: 
        – Alô, iniludível! 
O meu dia foi bom, pode a noite descer. 
(A noite com seus sortilégios.) 
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, 
A mesa posta, 
Com cada coisa em seu lugar.”
 

COMENTÁRIO Nesse poema, que faz parte do livro XXX Opus 10, de 1952, fica ilustrada a relação única que o poeta tem com a questão de iminência do fim da vida. O eu-lírico demonstra temor da morte e ao mesmo tempo revela certa proximidade dela. Ao dizer que talvez pronuncie uma frase casual (“Alô, iniludível!”) e ao imaginar a morte entrando em sua casa, constrói laços de intimidade com a “Indesejada das gentes”. Essas relações fascinam pela candura e pela resignação com que encara seu destino. 
Irene no Céu 
“Irene preta 
Irene boa 
Irene sempre de bom humor 

Imagino Irene entrando no céu: 
– Licença, meu branco! 
E São Pedro bonachão: 
– Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.”
 

COMENTÁRIO
Aqui é possível interpretar o significado de Irene para o poeta. Irene é a representação da humildade, da simplicidade. Essas características são postas em evidência pela cor de sua pele (sabe-se que no Brasil as pessoas negras são uma parcela significativa dos pobres) e pelo modo como se refere a São Pedro. O poema valoriza esses elementos, o que se expressa na resposta tocante do santo, que dispensa maiores formalidades, como se o paraíso fosse o lugar dos simples e humildes. 




Ilustração de Irene

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